Gostos não se discutem…educam-se: rótulos e
ditaduras das tendências
Ouvi dizer que a educação também se faz acontecer
no que diz respeito a gostos. Concordo!
Se pensar que o indivíduo é influenciado pelo meio
ambiente familiar e social que o rodeia e, que o papel da educação é o de
trazer à luz criadores e não repetidores, bem como, formar mentes capazes de
criticar e experimentar, ao invés de aceitarem o que já foi inventado, tenho a
resposta à afirmação contida no título que escolhi para falar sobre moda.
Que me faz chegar à moda da peúga branca, parte
integrante de qualquer pé nos anos 80.
Só de mencionar o facto fico com medo e alguns
calafrios. Se acrescentarmos as raquetes uma por cima da outra em cruz, entro
em pânico. Afinal também sou influenciada pela moda como qualquer mortal.
Eu, e qualquer pessoa que um dia as usou, agradecemos
que um dia, um espirito criativo e crítico tenha “inventado” a tendência de
fugir a esta aberração. E que tenha tido o bom senso de educar os gostos.
Tal como na música podemos educar os ouvidos,
ou a alma para a literatura, assim como o pensamento para o
intelecto, como por sorte eu fui educada por grandes professores, na moda
podemos educar a sensibilidade, o bom senso e o olhar delicado.
E quem é que os educa? E quem determina se temos ou
não educação nos gostos?
São as influências do meio que nos rodeia,
familiar, de amigos, da escola, que nos molda e transforma.
Mas também quem nós trazemos nos genes e que nos
faz seres pensantes, críticos, inovadores ou seguidores. De gosto sensível, ou
não. Mas ser em aprendizagem, sempre.
Por isso também, não gosto destas 3 palavras quando
se fala de moda: fora-de-moda. Um contrassenso, ou melhor uma contradição.
Quem é que determina o que está in ou out?
As tendências… o meio social: a publicidade, o
marketing, as revistas e os senhores que criam as roupas determinam as chamadas
tendências.
Tendencialmente vivemos num mundo de tendências.
Algumas que vivem e morrem, na moda, à velocidade de um cometa. De uma estação
para outra. Mesmo que o clima hoje, não defina mais as estações.
Talvez acompanhadas por decretos saídos de um “brainstorming” que
quando é muitas vezes repetido se torna verdade!
E aceite. Mas nem todos vêm o mesmo que todos.
Felizmente.
Por outro lado, felizmente alguém de gosto sensível
determinou que a tendência da peúga branca devia morrer.
E obteve consenso da larga maioria, tirando o
reduto de alguns emplastros irredutíveis nas suas aldeias onde ideias
inovadoras não entram. A não ser os feirantes do costume, com a mercadoria
de refugo que não se vende em mais nenhum armazém.
No mundo global, são números residuais.
Apesar de desprezadas também nos fardos/calamidades
em África, ainda há quem as combine com calças de cetim cinzento e um sapato de
verniz preto.
Como eu vi e precisei de ficar em posição de lótus,
contar lentamente até 50, quase até levitar, para não cair abruptamente da
cadeira.
Ou ceder à inquieta tentação de fazer alguma
pedagogia sobre o gosto e tentar educá-lo.
Elas andam aí e é preciso cuidar para que um dia
sejam extintas como o Tiranossauro Rex, permitindo apenas às sobreviventes,
aparecimentos fugazes nas noites caseiras de inverno profundo, debaixo das
mantas, para não serem vistas por olhos sensíveis.
Sem qualquer tendência tirana sobre a moda, claro…
A pensar apenas na educação dos gostos…
Anabela Ferreira
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