terça-feira, 10 de setembro de 2013

O cachimbo




A manhã começa serena neste meu tugúrio secreto do Quartier Latin. A sensação de imortalidade da alma surge a par do desejo de perceber um pouco mais da razão de existir. Por isso o anseio de paz e silêncio. Por isso a necessidade de pensar e refletir. Por isso o querer compreender o Ser, enquanto se desenvolve o Estar.

Sento-me diante do vidro baço da janela, escutando Deus, encarnado em homem, através da ária So oft ich meine Tobackspfeife, o que me desperta a vontade de reencontrar-me com o meu velho Calabash. Encontro-o em repouso de semanas e, após alguns minutos deixo-o pronto para o deleite.

O tabaco a ser utilizado deve ser sempre aquele cuja composição inclua uma mistura proveniente de quatro continentes, a sua textura, coloração e contraste, devem ser únicos e, para sabermos se o que possuímos está nesse patamar, usamos o olfato, aprimorado depois de anos de habituação, para concluirmos e decidirmos sobre qual saborear. Convém termos em casa três tipos de tabaco, o Aromático, o Virgínia e o Inglês, fazendo assim uma variação diária, para que o nosso paladar absorva e compreenda o que tange a lira da excelência.

A melodia espalha-se no ar. A sensação de bem-estar que sinto é incomparável. Experimento, entre os dedos a textura e nas narinas o aroma, percebo o tabaco, compreendo-o, sei o modo de o compactar, de obter o espaço perfeito no fornilho para que a baforada seja prazerosa. Com haste apropriada acendo o Calabash, para não queimar demasiadamente o tabaco. Jamais o deixo apagar, pois ao reacendê-lo posso sentir um sabor ocre e desagradável. Tem que arder lenta e saborosamente, sem ameaça de morte súbita. O ritmo deve ser marcado, compasso a compasso, nota a nota, sem inalar, enviando lentamente subtis anélitos de ar, da boquilha para o fornilho, assegurando assim o fulgor da ardência.

A melopeia entorpece os sentidos, a atenção volta-se para alguém que passa, longe e leve, junto ao Sena. Enquanto sinto veementes ensejos de volúpia provocados pelo ritual, inebrio-me com a visão da quantidade de trigo conduzido por estas águas, transportadoras também de outros produtos, dos mais variados, uma hidrovia como poucas no mundo. Mais abaixo surge um barco mosca, o famoso Bateau-mouches, tendo em si uma quantidade razoável de pessoas, provavelmente turistas. A vida em Paris é intensa, aliciante e com laivos de encanto esotérico.

O Calabash pede descanso. Um novo cerimonial começa, enquanto admiro a gigante frondosa que repousa atrás dos vidros baços das janelas. Confirmo a frieza do objeto, retiro, lenta e progressivamente, toda a cinza do fornilho, procuro resíduos na boquilha, tento ser a minúcia encarnada em homem, cuido, para usar em outra manhã inspiradora, sinto a minha arte a latejar nas veias, a vontade de atirar letras a um papel, alvo e virtual, nunca arisco.

O Calabash terá repouso, viro o bocal para baixo, pouso-o. Vai adormecer em si. Como um herói em retorno de uma batalha vencida. Só voltará a subir em seu cavalo e a desembainhar a espada dentro de duas semanas. Só seguirá o seu destino quando estiver curado das feridas desta última peleja.

Em subsequente dia devo servir-me de outro Kixima, não este Calabash e, quando isso se der, seguirei o culto, feito moda de princípio de outono, com o blend maduro e os meus olhos a absorverem o amarelo das folhas que caem. Pode até ser em uma das margens do sumptuoso. Que é belo e transpira vida. Que é meu, pois em meu olhar se aventura.

A minha solidão abençoada termina quando a casa é invadida pelos rebentos que a enfloram. Natália, a nossa visita querida, lança-me um olhar cheio de cuidados profissionais e, sem titubeio, pergunta-me pelo artigo que lhe devo. Surpreendendo-a afirmo http://img2.blogblog.com/img/icon18_edit_allbkg.gifque acabei de o escrever. Ela ri. Escuta-o atentamente. Depois coloca em dúvida se um cachimbo pode ser um ornamento da moda cotidiana, e se poderei abordar esse tema em seu blogue. E eu respondo que, se não é estamos com razoáveis problemas, pois devemos desclassificar também os brincos, as meias, e mais alguns panitos… Está aí uma bela ideia: eliminemos tudo. Voltemos às cavernas. A folha de parreira é a moda!

Que venha daí Johann Sebastian Bach. O resto são manias! Fugazes como a vida.

Rui Calisto

sábado, 7 de setembro de 2013

Moda Conde Barão



 
Deixem as putas em paz. Com a moda que criaram para se distinguirem.
 
Acho completamente errado que jovens muito jovens, ou versões das jovens mas com mais anos civis, andem a copiar modas. Assim não contribuímos como género. Nem nos tornamos sinónimo de modernização através destas escolhas.
 
Chamem-me obtusa e invejosa que eu nem quero saber. Chamem-me desinformada e com preconceitos que eu abano o rabo e sigo o meu caminho. Mas opinativa ou julgadora, isso nunca deixarei de ser. Daquelas sem políticas corretas.
 
Há por aí cantoras, do atual regime musical da coxa à mostra, que decidiram que quanto mais mostrarem de pele, mais discos vendem. Não interessa a voz. E juro, palavra d´honra, algumas até sabem cantar. Mas mostrar curvas é que tem a ver com a evolução da música. Algumas cantoras nasceram apenas com capacidade para miar e ninguém lhes diz. Mas o objetivo é mostrar muita pele para que o processo da fotossíntese seja mais fácil de realizar… a venda de discos. Digo eu quando tento perceber as razões do roubo de estilo.
 
Aqui começo a fazer um paralelismo, entre este mundo e o mundo da moda. A vulgaridade versus chamada de atenção e/ou talentos. As invejosas, quanto a mim, são as miúdas “tipo” jovens, e as mulheres “tipo” menos jovens (são elas a falar) a copiarem estas cantoras, talentosas ou não, que por inveja, isso sim, foram buscar a moda ao Conde Barão. Lembro-me desde sempre que esta rua, sempre foi o nicho tendencialmente usado para o trabalho desenvolvido pelas putas. Com uma moda vulgar por definição. Com a finalidade de vender o que elas pensam ser um produto. Profissão que honra apenas os homens, mas isso é assunto para outros escritos. Naturalmente que nessa rua nasceram várias tendências de moda. Como em Inglaterra nasceu a tendência do uso das sandálias com meias, naquela rua e nas suas congéneres pelo mundo, nasceu a moda da mini-mini-saia, vulgo cinto largo, e o stilleto. Bem alto, de preferência.
 
Hoje adotadas pelas mulheres de linguagem moderna.
 
Está mal. Errado até ao âmago da coisa. Como diz uma minha amiga” andam a pôr pouco tabaco”. Deve ser a inveja a falar, de uma primitiva que só gosta de chinelas e com dificuldades de equilíbrio em cima desses saltos.
 
Nunca vi necessidade, sem falsos moralismos, de vender a imagem, através do uso de cintos largos e saltos. Algumas ainda pioram mais o visual, juntando-lhe meias arrendadas…
 
Andou a Betty Friedan a queimar o soutien, para que as mulheres votassem, tivessem liberdade a vestir, a ser quem quisessem ser, a ter igualdade de oportunidades no trabalho e na vida social em nome dos direitos humanos e agora isto…
 
Mas em democracia, aceita-se tudo, até a minha opinião sobre este estilus horribilis. Mas uma mente brilhante pensa isso sim, em proibir o piropo… Não partam os dentes do trolha que pirosamente piropa as damas da Conde Barão. Ou as outras. Por indistinguíveis.
 
Hei-de dar cabo da cabeça da minha neta, para que ela seja quem quiser ser, sem precisar usar minis com saltos altos. Vulgar e não sexy. Como elas pensam que são. Por ser uma moda aterrorizadora. E pertença de um grupo específico.
 
Tenho sentido do ridículo na “moda” e acho (do verbo achar que está mal) que as putas devem ter algo que as distinga, também por isto, não concordo com este roubo indecente de moda.
 
Meninas e mulheres libertem-se de facto, resolvam a vossa autoestima, por vocês mesmas, inventem formas belas de chamar a atenção e, deixem a moda das putas em paz e sossego.
 
 
Anabela Ferreira