domingo, 24 de março de 2013

Perguntemos aos estilistas como será o mundo amanhã

Interroga-se Eric Hobsbawm, recentemente falecido, no seu conhecidolivro A Era dos Extremos – História do Breve Século XX , por que razão os estilistas e criadores de moda nos países industrializados, conseguiam prever nas suas criações as mudanças mais significativas na cultura e nas mentalidades muitas vezes com vários anos de antecedência. Vê Hobsbawm este fenómeno como algo paradoxal tendo em conta o carácter nada reflexivo dos criadores na realização do seu mister. Esta observação tem para mim muito de provocador como dizem ter sido a sua personalidade. Esta provocação tem na sua origem, para mim, a contradição aparente em que a Arte na sua essência de coisa reprodutiva (Walter Benjamin) se transformou. Pensamos de imediato nos artistas da segunda metade do século XX que empurrados pela maciça produção dos Estados Unidos, a seguir a 1945, transformaram todo o mundo ocidental (e não só mas sobretudo) e com ela a Humanidade. Da Arte para elites passou-se para a Arte dos consumidores? E estes consumidores (a Humanidade) transformaram ou absorveram os juízes dessa Arte? Andy Warhol reflectiu sobre isto e muitos lhe seguiram até chegarmos a hoje onde o consenso sobre o que é Arte não é mais que miragem.

E no período que precede esta produção o homem e a mulher comum não consumia Arte? Claro que sim. E a 'moda' não codificava como hoje codifica as pessoas? Penso que também sim, será a resposta. Na Idade Média esta estratificação é visível na cor das vestes das várias Ordens Religiosas, os Nobres usavam cores só a eles acessíveis. Na Antiguidade, mulheres usavam peles de animais para executarem rituais sagrados chamados de 'Mistérios de Elêusis'. Não cai tudo isto, a forma como cobrimos o corpo no domínio da 'moda'? Num ponto, creio, que indiscutivelmente a 'moda' classificou a Humanidade, que é a classificação por género. De todo é recente, a catarse do transvestismo, do homem vestir-se com roupas que se convencionou serem de uso feminino e vice-versa.

De todo, é recente a necessidade deste transvestismo constituir para cada um o assumir do verdadeiro género sentido como verdadeiro pela própria pessoa. Homossexualidade ou mera dissociação invertida do género, o século XVIII viu nascer em Inglaterra, pelas fascinantes personagens que foram os Libertinos (não por acaso do deus Liber ou Pater Liber da Antiguidade) casas de prostituição masculina onde homens se vestiam de mulher tendo ou não relações com outros homens também estes vestidos ou não como as mulheres da época. Estas casas 'Molly's Houses' – molly – efeminado (a mais famosa 'Mother Clap's' fizeram as delícias dos contemporâneos e chocaria talvez hoje, os nossos contemporâneos portugueses. 

Ai que diferente é o amor em Inglaterra...?


Ana Marta Reis Almeida


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