sábado, 18 de maio de 2013

O que é a moda, senão aquilo que fazemos dela?

 
O ato de vestir-me todos os dias é um ato de saturação mental. Não consigo compreender como alguém pode ter prazer em passar horas diante de um espelho a experimentar esta ou aquela peça. Isso enerva-me de tal modo que, sem apoio, seria capaz de rasgar tudo o que estivesse a provar.
 
Para mim, o óbvio é olhar para o guarda-roupa e vestir-me pensando apenas no básico: uma boa combinação de cores. Sempre primando pela discrição. O ser discreto é fundamental para não ser alvo de olhares menos bons. Creio que, se desejamos ser “espampanantes” no vestir, devemos fazê-lo no Carnaval. Período do ano em que podemos passar por “pessoas divertidas”. Quer dizer… por favor, não me interpretem mal, afinal, garanto-vos que sou uma pessoa divertida, mas creio que isso só se percebe num jantar, rodeado daqueles que amo e, naturalmente, com um tinto de qualidade a “molhar a goela”.
 
Lembro-me, com uma certa saudade, das calças “boca-de-sino” dos anos setenta no, logo longínquo, século XX. Lembro-me muito bem, aliás. Bem como daquelas camisas com padrões coloridos, réstia de sóis dos hippies dos anos sessenta. Bons tempos. Hoje acho graça. E, fico a matutar, muitas vezes, se ousaria repetir aqueles figurinos.
 
Nos anos oitenta passei a usar um estilo anos cinquenta: calças jeans, t-shirt branca, casaco de couro preto, sapatos “bico-fino”. As garotas adoravam e eu sentia-me o Elvis, o Brando, ou o Dean.
 
Nos noventa, com muito teatro e literatura cabeça dentro, vestia-me como um hippie dos anos sessenta. Ah… Garanto-vos que tomava banho, uma das minhas grandes predileções, ao contrário dos “garotos do Iê-iê-iê”, que tinham “fama de maus”, e o banho era coisa estranha para eles.
 
Entrou a primeira década deste novo século e passei ao estilo: “querida, o que vou vestir?”.
 
Na segunda década, acusam-me de não ter desenvolvido um estilo próprio na vestimenta. Enganam-se, pois “a minha alma” continua com calças jeans, t-shirt branca, casaco de couro preto e sapatos “bico-fino”. Já a casca, bom, essa, coitada, deseja mesmo um calção de banho e o último modelo de uma famosa marca brasileira de chinelos.
 
Aí está o que vou fazer da moda. Ou, não me digam que vivendo numa praia paradisíaca o meu figurino não estará adequado?
 
Rui Calisto

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