Penso nisso quando recordo aquela manhã no Pier 11, quando a Wanda segurou o meu braço e desabafou:
—
Cá para nós, eu acho que ele é gay.
—
O que te faz pensar isso? — Sorri.
—
Ora... tudo. Eu me produzo, me faço bonita e ele mal me olha. Há algo errado
com aquele garoto.
—
Não creio. Deve ser outra coisa, esteja certa. Ele não é gay.
Ela
fez um silencio, olhou o horizonte e voltou a fitar-me.
—
Eu sou feia?
—Não
és feia, muito pelo contrário!
—
Então o que há de errado? Só pode ser ele.
—
Bem, tenho que descer. — Apontei para o barco atracado na marina.
—Ah
que pena... — Lamentou, para em seguida inclinar-se em minha direção. — Antes
que se vá, poderíamos marcar jantarzinho à quatro? Tu e a Aida bem que poderiam
criar um clima, uma situação, pensem em algo.
Sei lá... podem parecer fazer um encontro casual.
—
Um jantar com dois casais seria algo bem longe do casual, não acha Wanda? —
Acabamos rindo juntos.
—
Estou perdida!
—
Relaxa-te. Pedirei a Aida para pensar em algo.
Ela
sorriu, beijou-me os lábios e saiu acenando pelo píer.
Zarpamos
e eu continuei a sorrir, vendo a sua silhueta diminuir-se à medida que o barco
afastava-se da costa. Fazia uma verificação no equipamento de mergulho quando
Jean Pierre se aproxima e senta-se à minha frente.
—
A Aida não se sente enciumada com toda essa intimidade que tens com a Wanda?
—
Não que eu saiba... Mas tu te sentes incomodado? — Falei sem dirigir-lhe o
olhar, manuseando os cilindros de oxigênio.
—
Eu? Está louco? — Ele quase gritou.
—
Não. Só perguntei. — Sentei-me
finalmente, lançando-lhe um olhar. — Então?
—
O que é esse ‘então’?
—
Ora, essa pergunta sobre o ciúme da Aida, pareceu-me que tu finalmente admites
que gostas da Wanda. O possível ciúme da minha namorada não seria um ciúme de
tua parte? A minha amizade com ela de algum modo te importuna?
—
Não seja bobo!
—
Não estou sendo, meu caro. Só ligo pontos.
—
Imagina se algum dia eu poderia me ver ao lado da Wanda.
—
E por que não?
—
Aaron, tenha fé em Deus! Olhe para aquela mulher... jamais teria olhos para
mim! — Eu sorri. Ele continuou falando e a olhar para a costa que já se fazia
distante. — Ela veste-se e se porta com uma elegância incomum, tem mesmo um ar
majestoso... E eu? — Perguntou me
olhando seriamente.
—
Bem, não espere que eu te carregue de elogios...
—
Bah! Meu amigo eu sou isso. Uso surfwear, quando não estou de sungas. Meu
ambiente é a praia, pés na areia, cabelos ao vento. — Ele sentou-se ao meu lado, para iniciar uma
verificação visual do equipamento de mergulho. — Mas nem em sonho alguém com
tanta classe me observaria. Certamente ao me ver, deve pensar de imediato que
sou de alguma tribo.
—
Bobagem, Jean Pierre.
—
Com aquela pose? Duvido!
—
Com uma atitude dessas, realmente tornas tudo impossível. Mude o pensamento ou
de atitude... Mude as roupas, se achar importante. — Fiz uma breve pausa. — De toda maneira, não creio que ela dê
importância a isso.
—
A mim?
Não
contive o riso.
—
Para quem não se vê ao lado da Wanda, parece-me por de mais preocupado...
—
Não ria de mim.
—
Não estou a rir de ti... embora essa recusa me pareça engraçada. Admita que
gosta dela e deixe tudo acontecer.
—
Não é tão simples.
—
Óbvio que o é. Tente!
—
Não estou disposto.
—
Tudo bem, a vida segue.
Passamos
quinze dias no mar e não tocamos no assunto. Ao descer em terra e falar com a
Aida, liguei para a Wanda e marquei um jantar no meu apartamento. Prometi-lhe
uma surpresa. Dois dias depois
sentávamos em nossa sala de jantar, para um jantar à quatro. Eu, a Aida, a
Wanda e o meu amigo Max. Sete dias depois, retorno à marina e reencontro o Jean
Pierre, que outra vez retomou os suspiros e suas conversas de diferenças de
estilo, impossibilidades e indisposições.
A
Wanda... bem, seis meses se passaram e eis que ela convida a mim e a Aida para
a inauguração de sua loja de surfwear, um empreendimento em sociedade com o Max,
que vencera o campeonato regional de windsurf.
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